Testes mais fluidos com AssertJ
Em um post anterior, o Leonardo Souza explicou como é a cultura da empresa e comentou sobre o hackday, um dia em que os desenvolvedores podem trabalhar em suas próprias ideias. Eu entrei para a empresa em outubro e nos meus primeiros meses fiquei auxiliando nas ideias de outras pessoas, pois ainda não tinha nenhuma ideia. Pouco tempo depois, a ThoughtWorks lançou a décima-sétima edição do seu radar e, para minha surpresa, na área de linguagens e frameworks para se adotar estava apenas Python 3. Na área seguinte, para testar, estava o AssertJ. A partir desse momento resolvi explorar essa biblioteca.
Motivação
A primeira coisa que pensei foi: qual é a vantagem em utilizá-lo? Logo de cara, o radar nos informa que o framework em questão fornece uma interface fluida para asserções. Mas o que é uma interface fluida? Martin Fowler mostra um exemplo e comenta um pouco, mas, em resumo, é uma forma de escrever nosso código tentando nos aproximar da maneira como escrevemos no dia-a-dia.
Esclarecidas essas dúvidas, resolvi dar uma olhada no código, de fato. Vamos supor que temos um cenário de teste em que queremos verificar se a variável a
é igual à variável b
.
JUnit
Utilizando apenas JUnit, ficaríamos com o seguinte código:
assertEquals(b, a);
E teríamos a seguinte importação:
import static org.junit.Assert.assertEquals;
Essa asserção sempre me incomodou, pois eu não gostava de escrever primeiro o valor esperado e, só depois, o valor real. Felizmente isso não foi algo frequente no meu time, pois usamos o Hamcrest. Aí entrou um outro ponto: qual a vantagem do AssertJ sobre o que já usamos?
Hamcrest
Para isso, vamos reescrever o teste acima, usando o que o time já estava acostumado:
assertThat(a, equalTo(b));
E os import
s:
import static org.hamcrest.MatcherAssert.assertThat;
import static org.hamcrest.Matchers.equalTo;
É possível observar que agora escrevemos na ordem que esperamos, ou seja, primeiro o valor real, depois o esperado. Um outro ponto é que aumentamos o número de import
s para dois, mas isso é totalmente aceitável.
AssertJ
E, finalmente, como ficaria com o AssertJ?
assertThat(a).isEqualTo(b);
E teríamos o seguinte import
:
import static org.assertj.core.api.Assertions.assertThat;
Duas coisas que me chamaram a atenção:
- A asserção ficou ainda melhor do que com Hamcrest (no meu ponto de vista).
- Temos uma linha de importação a menos.
Mas, sendo sincero, quem se importa quanto à quantidade de linhas de importação? A IDE já nos auxilia e as faz de forma rápida com algum atalho. Como o propósito não é esse, mas escrever nossos testes de forma mais simples e fáceis de entender, achei que o framework cumpria o que prometia. Além disso, procurando por “Hamcrest vs AssertJ” no Google é possível ver que este vem ganhando cada vez mais espaço.
Um ponto importante é que, mesmo fazendo as alterações, ainda é necessário aprovação do(s) time(s) envolvido(s). Dito isso, eu optei por testá-lo e comecei a migrar todas as minhas classes de teste, até chegar o momento em que não era mais necessário manter a dependência do Hamcrest.
Migrando os testes
Para converter todos os testes do JUnit para o AssertJ, o próprio site oficial contém uma seção, onde é possível fazer o download de um script, que faz as alterações automaticamente. Entretanto, para ter certeza que aprendi a utilizar o framework e conhecer um pouco mais de suas features, optei por fazer todo o processo manualmente. Felizmente não temos mais do que 58 classes de teste no projeto em questão.
Adicionando a dependência
O primeiro passo foi adicionar a dependência ao projeto. Como usamos Gradle, adicionamos a linha seguinte em nosso build.gradle
:
testCompile 'org.assertj:assertj-core:3.9.0'
Obs: Para a versão 3.x é necessário Java 8 ou superior. Caso tenha o Java 7, use a versão 2.x. Se tiver Java 6, opte pela versão 1.x.
Obs 2: No quick start é possível encontrar o código para o Maven.
Alterando o primeiro teste
Cada commit meu alterava uma única classe de teste, então vamos para a primeira classe, responsável por verificar se, dado um código, há um tipo de mensagem associada ou não. Um código válido, por exemplo, é 1, enquanto que 99 é inválido. Nosso teste antes, estava da seguinte forma:
public class MessageTypeTest {
@Test
public void should_return_present_when_message_type_is_valid() {
Optional<MessageType> messageType = MessageType.fromCode(1);
assertTrue(messageType.isPresent());
assertEquals(1, messageType.get().getCode());
}
@Test
public void should_return_empty_when_message_type_is_not_valid() {
Optional<MessageType> messageType = MessageType.fromCode(99);
assertFalse(messageType.isPresent());
}
}
No primeiro exemplo, vimos que onde aparece assertEquals()
, trocamos por assertThat().isEqualTo()
. Logo, essa foi a primeira mudança que fiz:
public class MessageTypeTest {
@Test
public void should_return_present_when_message_type_is_valid() {
Optional<MessageType> messageType = MessageType.fromCode(1);
assertTrue(messageType.isPresent());
assertThat(messageType.get().getCode()).isEqualTo(1);
}
@Test
public void should_return_empty_when_message_type_is_not_valid() {
Optional<MessageType> messageType = MessageType.fromCode(99);
assertFalse(messageType.isPresent());
}
}
Com o que já vimos, poderíamos alterar as asserções booleanas, ficando com assertThat(messageType.isPresent()).isEqualTo(true)
(ou false
no segundo caso). Mas o framework nos disponibiliza dois métodos para isso, o isTrue()
ou isFalse()
, então podemos refatorar tudo, ficando com o código final abaixo:
public class MessageTypeTest {
@Test
public void should_return_present_when_message_type_is_valid() {
Optional<MessageType> messageType = MessageType.fromCode(1);
assertThat(messageType.isPresent()).isTrue();
assertThat(messageType.get().getCode()).isEqualTo(1);
}
@Test
public void should_return_empty_when_message_type_is_not_valid() {
Optional<MessageType> messageType = MessageType.fromCode(99);
assertThat(messageType.isPresent()).isFalse();
}
}
Próximos testes
A maioria dos testes continha asserções simples, como assertEquals()
, assertTrue()
, assertFalse()
, assertNull()
e assertNotNull()
. Todas elas podem ser facilmente substituídas por, respectivamente:
assertThat().isEqualTo()
assertThat().isTrue()
assertThat().isFalse()
assertThat().isNull()
assertThat().isNotNull()
Conhecendo um pouquinho de inglês essa tarefa fica um pouco mais intuitiva.
Mas a migração começa a ficar um pouco mais interessante quando começamos a mexer com coleções e streams.
Uma das classes, ConversationDAOIntegrationTest
continha métodos que verificavam o conteúdo de listas de conversas. Como podemos filtrar por mensagens não arquivadas, por exemplo, temos que verificar se determinada conversa está presente ou não numa listagem. Nosso teste estava assim:
public class ConversationDAOIntegrationTest {
@Test
public void should_filter_active_conversations() {
// Código omitido para manter a simplicidade...
List<GroupParticipation> result = groups.getResults();
assertThat(result, contains(activeParticipation));
assertThat(result, not(contains(archivedParticipation)));
}
}
Repare que estávamos usando Hamcrest aqui! Observe, também, que precisamos ficar encadeando chamadas de métodos para verificar se a lista não contém determinado elemento. Um pouco ruim, não? Com AssertJ, podemos fazer assim:
public class ConversationDAOIntegrationTest {
@Test
public void should_filter_active_conversations() {
// Código omitido para manter a simplicidade...
List<GroupParticipation> result = groups.getResults();
assertThat(result).contains(activeParticipation);
assertThat(result).doesNotContain(archivedParticipation);
}
}
Um pouco melhor, certo? Olhando um pouco mais o Javadoc, vi que há outros métodos, um deles chamado de containsExactly()
, que verifica se o grupo possui o elemento passado como parâmetro e nada mais, em ordem! Nesse caso não há problema, pois temos apenas um único parâmetro. Caso tivéssemos mais de um e a ordem não importasse, poderíamos usar ainda o containsExactlyInAnyOrder()
. Usando o método que acabamos de descobrir, temos o seguinte:
public class ConversationDAOIntegrationTest {
@Test
public void should_filter_active_conversations() {
// Código omitido para manter a simplicidade...
List<GroupParticipation> result = groups.getResults();
assertThat(result).containsExactly(activeParticipation);
}
}
Uma outra classe, ConversationCreationAcceptanceTest
também possui métodos envolvendo conversas. Um deles, inclusive, filtra os participantes de uma conversa, para garantir que a pessoa que criou a conversa é o comprador… Vamos dar uma olhada em como ele estava:
public class ConversationCreationAcceptanceTest extends BaseAcceptanceTest {
@Test
public void should_create_a_conversation_as_buyer() {
// Código omitido para manter a simplicidade...
Optional<Conversation> optionalConversation = conversations.details();
assertTrue(optionalConversation.isPresent());
Conversation conversation = optionalConversation.get();
assertEquals(randomConversation.getExternalId(), conversation.getExternalId());
assertEquals(userCreation.getExternalUserId(), conversation.getLastMessage().get().getSender().getAuthorId());
assertEquals(1, conversation.getMembers().stream()
.filter(p -> p.getMemberId().equals(userCreation.getExternalUserId()))
.filter(p -> p.getGroupRole().equals("BUYER"))
.count());
}
}
O assertTrue()
está presente para verificar se o optionalConversation
possui algum valor antes de realizarmos o get()
. Como ele não nos interessa no momento e já sabemos como transformá-lo numa asserção do AssertJ, vamos passar a omití-lo. Os dois primeiros assertEquals()
também podem ser convertidos facilmente, sobrando o último, que faz um filtro nos membros da conversa. Ao invés de criarmos um stream à partir da lista, podemos chamar direto o método filteredOn()
do AssertJ, assim:
public class ConversationCreationAcceptanceTest extends BaseAcceptanceTest {
@Test
public void should_create_a_conversation_as_buyer() {
// Código omitido para manter a simplicidade...
Conversation conversation = optionalConversation.get();
assertThat(conversation.getExternalId()).isEqualTo(randomConversation.getExternalId());
assertThat(conversation.getLastMessage().get().getSender().getAuthorId()).isEqualTo(userCreation.getExternalUserId());
assertThat(conversation.getMembers())
.filteredOn(conversationMember -> conversationMember.getMemberId().equals(userCreation.getExternalUserId()))
.filteredOn(conversationMember -> conversationMember.getGroupRole().equals("BUYER"))
.hasSize(1);
}
}
Vou bater na tecla que o AssertJ não está aqui para diminuir a quantidade de código que escrevemos (às vezes ele diminui, mas não é a regra). A ideia de utilizá-lo é tornar o código mais legível para o ser humano, como se estivéssemos escrevendo uma frase.
Melhorando os testes
O que aconteceria, no último exemplo, se a primeira asserção estiver incorreta? O restante do código nem é executado e não temos como saber se o restante está correto ou não. Ou seja, se o ID externo da conversa não for igual ao esperado, não saberemos se o ID do autor está correto, nem se ele é um comprador. Para isso, o AssertJ nos oferece soft assertions, isto é, asserções suaves, que executa todo o código e, ao final, nos informa quais asserções falharam.
Vamos alterar o código acima para utilizar esse recurso, através do SoftAssertions.assertSoftly()
:
public class ConversationCreationAcceptanceTest extends BaseAcceptanceTest {
@Test
public void should_create_a_conversation_as_buyer() {
// Código omitido para manter a simplicidade...
Conversation conversation = optionalConversation.get();
SoftAssertions.assertSoftly(softly -> {
softly.assertThat(conversation.getExternalId()).isEqualTo(randomConversation.getExternalId());
softly.assertThat(conversation.getLastMessage().get().getSender().getAuthorId()).isEqualTo(userCreation.getExternalUserId());
softly.assertThat(conversation.getMembers())
.filteredOn(conversationMember -> conversationMember.getMemberId().equals(userCreation.getExternalUserId()))
.filteredOn(conversationMember -> conversationMember.getGroupRole().equals("BUYER"))
.hasSize(1);
}
}
}
Conclusão
Se testes automatizados são ou não importantes não é o foco desse post. Vários outros já argumentaram em cima desse tema e, como nós acreditamos que seja importante, estamos de olho no código para melhorá-lo e garantir que tudo funcione corretamente. Para isso, usamos os frameworks e dentre os diversos disponíveis, o AssertJ acabou de entrar na nossa stack. Só lembrando, não optamos por utilizá-lo para escrever menos. Ao contrário, escrevemos mais, mas fazemos nossos testes como se fossem frases que podem ser lidas, facilitando muito nosso trabalho.
Nesse post vimos apenas uma parte dos recursos disponíveis, mas olhando no site oficial, encontraremos diversos outros que podem ser muito úteis, como o método extracting()
, que permite retirarmos atributos do objeto em questão, ou criar custom assertions que nos possibilita criar as nossas próprias asserções!