Subindo uma API REST em Clojure

Clojure é uma linguagem funcional e dinâmica que roda na JVM e que vem crescendo bastante no mercado de trabalho. Ela é tão performática quanto qualquer programa que roda em Java e muito menos verbosa. Isso facilita e muito na manutenção do código, influenciando no custo do desenvolvimento. Caso não esteja muito familiarizado com esta linguagem incrível, recomendo a leitura do livro Clojure for the Brave and True onde ensina desde o básico sobre Clojure.

Para testar algumas características da linguagem vamos criar uma aplicação com uma API REST básica. Esse projeto, o clojure7, que será um CRUD de posts de um blog.

Para quem programa ou já programou em Clojure, deve ter esbarrado em algum momento no Leiningen. Ele é um gerenciador de dependências e tasks, assim como o gradle e maven para os “javeiros”. Com o Leinigen, podemos construir a hierarquia do nosso novo projeto, rodar a aplicação com plugins, entre outros.

Dependências

Vamos utilizar um plugin chamado Compojure, para criar a hierarquia e arquivos básicos para nossa aplicação. O Compojure é uma biblioteca, não um framework, baseado no Ring (biblioteca que consegue manipular request e response, semelhante à especificação Servlet no Java). A diferença entre os dois está no fato do compojure permitir o gerenciamento das rotas da aplicação mais facilmente.

Caso tenha dúvidas de como o Ring funciona, sugiro a leitura de seus conceitos.

Vamos começar criando o projeto a partir do Leiningen:

$ lein new compojure clojure7

Ao rodar este comando, o lein irá criar alguns arquivos para nós:

  • project.clj - arquivo de configuração do projeto, parecido com o build.gradle ou pom.xml
  • resources/ - pasta onde serão guardados arquivos como assets, templates html e migrações de banco
  • src/ - pasta contendo todo o código clojure da aplicação
  • test/ - pasta contendo os testes da aplicação

Vamos adicionar algumas dependências no arquivo project.clj:

  • ring-json - Permite lidarmos com requisições que contenham json e facilita as respostas da aplicação em json.
  • korma - Uma das minhas libs favoritas em clojure, um ORM que mapeia nossos modelos clojure em modelos relacionais no banco de dados.
  • mysql - Driver do mysql para clojure.

As dependências da aplicação ficarão assim:

:dependencies [[org.clojure/clojure "1.8.0"]
               [compojure "1.5.2"]
               [ring/ring-defaults "0.2.1"]
               [ring/ring-json "0.4.0"]
               [korma "0.4.3"]
               [mysql/mysql-connector-java "5.1.6"]]

Ainda neste mesmo arquivo, podemos adicionar a configuração do ring:

:ring {:handler clojure7.handler/app}

Na configuração acima temos um handler, um arquivo que deverá lidar com cada rota da aplicação, e o namespace apontando para o mesmo.

Ao abrirmos o src/clojure7/handler.clj, vamos alterar o ring para realizar o bind dos parâmetros da request para json e dizer ao ring que após passar pela nossa rota, transforme os dados da resposta em json .

(ns clojure7.handler
  (:require [compojure.core :refer :all]
            [compojure.route :as route]
            [ring.middleware.json :refer [wrap-json-response wrap-json-body]]))

(def app
  (-> all-routes
      wrap-json-response
      wrap-json-body))

Neste mesmo arquivo, teremos as definições de rotas:

(defroutes all-routes
  (GET "/" [] "Hello World")
  (route/not-found "Página não encontrada :("))

Com o Compojure, temos a definição da nossa rota com o defroutes, onde podemos passar uma lista de rotas para ele. Podemos ver que já temos uma rota GET para a raiz da aplicação que retornará uma String no corpo da resposta, e outra que caso não encontre nenhuma rota definida deste método, exiba a página de 404, “Página não encontrada :(”.

Banco de dados

Criaremos então a nossa tabela post no nosso banco de dados mysql:

CREATE TABLE post (
  `id` bigint(20) NOT NULL AUTO_INCREMENT,
  `name` varchar(50) NOT NULL,
  `category` varchar(30) NOT NULL,
  PRIMARY KEY (`id`)
);

A título de curiosidade, assim como no Ruby on Rails, podemos ter migrações de banco de dados para facilitar na criação/alteração de novas tabelas. Neste post não irei demonstrar pela extensão do assunto, mas caso queira aprender, sugiro o uso do migratus que também é outra lib excelente.

Vamos criar o arquivo src/clojure7/db.clj contendo as configurações do banco de dados:

(ns clojure7.db
  (:use korma.db))

  (defdb db (mysql
            { :classname "com.mysql.jdbc.Driver"
              :subprotocol "mysql"
              :subname "//localhost/clojure7"
              :user "root"
              :password ""}))

Recursos

Se tratando de REST, nosso modelo post é um recurso, então vamos mapeá-lo no arquivo src/clojure7/post/post.clj:

(ns clojure7.post.post
  (:require [korma.db :refer :all]
            [korma.core :refer :all]
            [clojure7.db :refer :all]))

(defentity post)

Podemos observar que com o defentity transformamos o objeto post em uma entidade gerenciada pelo korma. Agora podemos manipular os dados da tabela através do clojure, então vamos criar os métodos para cada operação do CRUD:

(defn find-all []
  (select post))

(defn find-by-id [id]
    (select post
      (where {:id id})
      (limit 1)))

(defn create [name category]
  (insert post
    (values {:name name :category category})))

(defn update-by-id [id name category]
  (update post
    (set-fields {:name name :category category})
    (where {:id id})))

(defn delete-by-id [id]
  (delete post
    (where {:id id})))

Criaremos agora as rotas para alterar nosso recurso post no arquivo src/clojure7/handler.clj e adicionaremos no namespace dele o link para o namespace post.clj, assim conseguimos acessar os métodos daquele namespace:

(ns clojure7.handler
    (:require [compojure.core :refer :all]
              [compojure.route :as route]
              [clojure7.post.post :as post]
              [ring.middleware.json :refer [wrap-json-response wrap-json-body]]))

(defroutes all-routes
  (GET "/posts" []
    (post/find-all))
  (POST "/posts" req
    (let [name (get-in req [:body "name"])
          category (get-in req [:body "category"])]
          (post/create name category)))
  (GET "/posts/:id" [id]
    (post/find-by-id id))
  (PUT "/posts/:id" req
    (let [id (read-string (get-in req [:params :id]))
          name (get-in req [:body "name"])
          category (get-in req [:body "category"])]
          (post/update-by-id id name category)
          (post/find-by-id id)))
  (DELETE "/posts/:id" [id]
    (post/delete-by-id id)
    (str "Deleted post " id))
  (route/not-found "Not Found"))

Subindo a aplicação

Podemos agora subir nossa aplicação com o seguinte comando lein ring server, por padrão ele irá subir na porta 3000.

Para executar cada uma das ações que criamos no código, seguem abaixo os comandos:

  • Criando um post
curl -X POST localhost:3000/posts -H "Content-Type: application/json" -d '{"name":"Clojure com o Simbal", "category":"cool-posts"}'
  • Listando todos os post’s
curl -X GET localhost:3000/posts
  • Editando um post
curl -X PUT localhost:3000/posts/1 -H "Content-Type: application/json" -d '{"name":"Clojure com o Greg", "category":"other-posts"}'
  • Encontrando um post
curl -X GET localhost:3000/posts/1
  • Removendo um post
curl -X DELETE localhost:3000/posts/1

Gostou do post? Tem alguma dúvida? Alguma crítica? Comenta aqui em baixo :) Espero que tenha despertado, para quem não conhece, aquela curiosidade que todo dev tem quando descobre que existe outra maneira de subir uma API REST nos seus novos projetos :D